Zizo Mamede
Não existe ambiente para conversas, reflexões e aprofundamentos sobre a Educação sem que se resolva o grave problema dos salários das professoras/es e demais profissionais que formam esse segmento. Pensar a Educação passa antes de tudo pela resolução dessa situação humilhante a que professoras/es, principalmente da Educação Básica, estão submetidos.
Há toda uma revolta, uma mágoa e uma amargura. Afinal, a remuneração das professoras/es não é parâmetro para nenhuma outra categoria. No Brasil, policiais militares lutam por um piso que está muito além do que foi aprovado para os educadores. Agentes penitenciários ganham mais do que professoras/es do ensino fundamental e médio. Na Paraíba os médicos querem perceber em um único plantão o que as professoras/es do Ensino Básico não recebem em um mês de trabalho.
Avaliação docente, nem pensar!
A grave situação do sub-assalariamento dos educadores traz outras seqüelas para a escola: a imensa maioria, sob o manto da desmotivação, não quer discutir questões mais gerais do ensino e da aprendizagem. Não quer construir o projeto político-pedagógico de cada escola. Muito menos pensar sobre o desempenho individual de cada profissional. Imagina se fosse instituído para professoras e professores avaliações periódicas equivalentes a Prova-Brasil, ENEM e vestibulares? O mundo viria abaixo.
Governos que pagam mal não têm moral para cobrar nada do professor! Em suma, sem dinheiro para sobreviver, comprar livros, participar de congressos e se atualizar, como querem que os educadores acompanhem as inovações e os debates mais contemporâneos sobre a Educação - Nem uma leiturazinha na internet não é mesmo?
Sem o equacionamento do problema salarial, nada de novo na escola, portanto.
As notas da Educação brasileira
A partir de 1995 após a criação do FUNDEF, depois substituído pelo FUNDEB, o financiamento da Educação pública brasileira experimentou aumentos importantes e dobrou nos últimos quinze anos, chegando ao nível de 5,2 % do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2009. Esses números são superiores aos da Índia, Indonésia e México, países de dinâmicas populacionais semelhantes a do Brasil. Mesmo assim, por aqui a situação da sala de aula pouco alterou se tomarmos como base o resultado do último ENEM- Exame Nacional de Ensino Médio. Os mais generosos falam em um avanço de meio ponto.
Na média do ÉNEM 2010, o Brasil ficou com uma nota de 548 pontos numa escala que vai de zero a 1.000. Nesta mesma escala as escolas particulares ficaram com 628 pontos de média, 80 pontos acima da média das escolas públicas, que ficaram com 527 pontos. Se essa nota fosse de zero a 10, a vantagem das escolas privadas sobre as escolas públicas seria de 0,8 pontos, ou seja, menos de um ponto. Pouca coisa, portanto, quando se leva em conta o que gastam as famílias que matriculam os filhos em escolas privadas.
Um consolo e um alívio para a Educação brasileira vieram com a divulgação do PISA-Ensino Médio. No quadro dos 65 países da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – o PISA revela que o Brasil avançou bem em uma década, principalmente no ensino de Matemática, obtendo um crescimento de 52 pontos numa escala de 1.000 pontos. No geral a pontuação subiu de 368 pontos no ano 2000 para 401 pontos no ano de 2009.
Nesta pisada o país continua reprovado
Mais dinheiro para a Educação
No projeto do Plano Nacional de Educação - PNE que está tramitando no Congresso Nacional o Governo Federal propõe um acréscimo gradativo nos investimentos da Educação pública nos próximos dez anos, passando dos atuais 5% (cinco por cento) do PIB (Produto Interno Bruto) para 7% (sete por cento). Mas os segmentos organizados da Educação pública no Brasil defendem um índice de 10% (dez por cento) do PIB para o mesmo período de 2011-2020. O país dobraria seus investimentos em Educação, a exemplo do que fez a Coréia do Sul. Que assim seja.
O joio e o trigo
No curto prazo, no intervalo de uma década, por exemplo, o aumento significativo do financiamento da Educação não assegurará um aumento equivalente na qualidade da Educação. Nem todo real gasto a mais com Educação vai redundar automaticamente em mais Educação.
A experiência futura vai revelar que os bons professores e professoras corresponderão com um trabalho ainda melhor. E então justiça será feita às lindalvas, às cristinas, as patrícias, às marias, às helenas, às hozanas.
Entretanto, os maus professores, que são professores porque não têm outra opção, continuarão na mesma letargia. Porém sem a mesma desculpa de ontem e de hoje para justificar a falta de compromisso com a Educação pública. Vão encontrar outra desculpa. Culpar os alunos, por exemplo. Ou a internet. Ou a televisão.
Opinião: Mais dinheiro para mais Educação
Reviewed by Francisco Júnior
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23:50
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