Quando a bestialidade emerge, fica difícil encontrar palavras para
descrever qualquer pensamento ou sentimento que tenta compreender um
acontecimento como esse.
Na última segunda-feira (3) semana*.
uma criança de oito anos foi queimada viva por madeireiros em Arame, cidade da
região central do Maranhão.
Enquanto a criança – da etnia awa-guajá – agonizava, os carrascos se
divertiam com a cena.
O caso não vai ganhar capa da Veja ou da Folha de São Paulo. Não vai
aparecer no Jornal Nacional e não vai merecer um “isso é uma vergonha” do Boris
Casoy.
Também não vai virar TT no Twitter ou viral no Facebook.
Não vai ser um tema de rodas de boteco, como o cãozinho que foi morto por
uma enfermeira.
E, obviamente, não vai gerar qualquer passeata da turma do Cansei ou do
Cansei 2 (a turma criada no suco de caranguejo que diz combater a corrupção
usando máscara do Guy Fawkes e fazendo carinha de indignada na Avenida Paulista
ou na Esplanada dos Ministérios).
Entretanto, se amanhã ou depois um índio der um tapa na cara de um
fazendeiro ou madeireiro, em Arame ou em qualquer lugar do Brasil, não faltarão
editoriais – em jornais, revistas, rádios, TVs e portais – para falar da
“selvageria” e das tribos “não civilizadas” e da ameaça que elas representam
para as pessoas de bem e para a democracia.
Mas isso não vai ocorrer.
E as “pessoas de bem” e bem informadas vão continuar achando que existe
“muita terra para pouco índio” e, principalmente, que o progresso no campo é o
agronegócio. Que modernos são a CNA e a Kátia Abreu.
A área dos awa-guajá em Arame já está demarcada, mas os latifundiários da
região não se importam com a lei. A lei, aliás, são eles que fazem. E ai de
quem achar ruim.
Os ruralistas brasileiros – aqueles que dizem que o atual Código
Florestal representa uma ameaça à “classe produtora” brasileira – matam dois (sem terra ou quilombola ou sindicalista ou indígena
ou pequeno pescador) por semana. E o MST (ou os índios ou os quilombolas) é
violento. Ou os sindicatos são radicais.
—
Os madeireiros que cobiçam o território dos awa-guajá em Arame não cessam
um dia de ameaçar, intimidade e agredir os índios.
E a situação é a mesma em todos os rincões do Brasil onde há um povo
indígena lutando pela demarcação da sua área. Ou onde existe uma comunidade
quilombola reivindicando a posse do seu território ou mesmo resistindo ao
assédio de latifundiários que não aceitam as decisões do poder público. E o
cenário se repete em acampamentos e assentamentos de trabalhadores rurais.
Até quando?
—
Atualização – 0h16 (06/01)
As informações sobre o episódio foram divulgadas pelo jornal Vias de Fato
(www.viasdefato.jor.br),
que faz um trabalho muito sério em São Luís, especialmente dedicado à cobertura
da atuação dos movimentos sociais. No seu perfil no Facebook, uma das
coordenadoras do Vias de Fato publicou a foto e a informação de que se tratava
de uma criança queimada. Estamos apurando e reunindo mais informações para
publicar assim que possível.
*O crime não ocorreu segunda (3) como informei. No sábado (31) o jornal
Vias de Fato foi informado do episódio, mas não diz em que dia ocorreu. O Vias
está fora do ar (algum problema técnico, creio), mas o cache do Google ainda
permite a visualização da nota publicada na noite do sábado. Clique aqui.
Fonte: http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2012/01/05/crianca-indigena-queimada/
Criança indígena de 8 anos é queimada viva por madeireiros
Reviewed by Francisco Júnior
on
17:22
Rating:
Nenhum comentário:
Postar um comentário