Sancionado simbolicamente ontem
pela presidente Dilma Roussef, na abertura do evento NetMundial, em São Paulo,
o texto do Marco Civil foi publicado hoje no Diário Oficial da União e entra em
vigor em 60 dias, no fim de junho.
O documento, que tramitou por
anos na Câmara, cria uma espécie de Constituição para o uso da internet no
país, com direitos, deveres e garantias para usuários e empresas. “O Marco é
uma experiência inovadora que ecoou das vozes das ruas, das redes e de
diferentes instituições”, disse Dilma.
DIREITOS
O Marco Civil considera a
internet uma ferramenta fundamental para a liberdade de expressão e diz que ela
deve ajudar o brasileiro a se comunicar e se manifestar como bem entender, nos
termos da Constituição.
O texto chega a apontar que “o
acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania”. O internauta tem
garantia de que sua vida privada não será violada, a qualidade da conexão
estará em linha com o contratado e que seus dados só serão repassados a
terceiros se ele aceitar – ou em casos judiciais, chegaremos a este tópico.
NEUTRALIDADE
Um dos pontos essenciais do Marco
Civil é o estabelecimento da neutralidade da rede. Preparamos um texto só para
explicar o que significa o termo e você pode conferi-lo aqui. Em linhas gerais,
quer dizer que as operadoras estão proibidas de vender pacotes de internet pelo
tipo de uso.
O governo até pode fazer essa
discriminação, mas só em duas situações: se ela for indispensável para a
prestação dos serviços; ou se serviços de emergência precisarem ser
priorizados. Mesmo assim, o presidente que estiver no comando não tem como
simplesmente mandar tirar internet de um lugar e botar no outro. Ele precisará
consultar o Comitê Gestor da Internet e a Agência Nacional de Telecomunicações.
GUARDA DE INFORMAÇÕES
Os provedores de internet e de
serviços só serão obrigados a fornecer informações dos usuários se receberem
ordem judicial. No caso dos registros de conexão, os dados precisam ser
mantidos pelo menos por um ano, já os registros de acesso a aplicações têm um
prazo menor: seis meses.
Qualquer empresa que opere no
Brasil, mesmo sendo estrangeira, precisa respeitar a legislação do país e
entregar informações requeridas pela Justiça. Caso contrário, enfrentará
sanções entre advertência, multa de até 10% de seu faturamento, suspensão das
atividades ou proibição de atuação.
Foi derrubada a obrigatoriedade
de empresas operarem com data centers no Brasil ainda na Câmara.
RESPONSABILIZAÇÃO PELO CONTEÚDO
A empresa que fornece conexão
nunca poderá ser responsabilizada pelo conteúdo postado por seus clientes. Já
quem oferece serviços como redes sociais, blogs, vídeos etc. corre o risco de
ser culpado, caso não tire o material do ar depois de avisado judicialmente.
Por exemplo: se a Justiça mandar o Google tirar um vídeo racista do YouTube e
isso não for feito, o Google se torna responsável por aquele material.
Haverá um prazo para que o
conteúdo considerado ofensivo saia de circulação, mas o juiz que cuidar do caso
pode antecipar isso se houver “prova inequívoca”, levando em conta a
repercussão e os danos que o material estiver causando à pessoa prejudicada.
OBRIGAÇÕES DO GOVERNO
Administrações federal, estaduais
e municipais terão uma série de determinações a cumprir, caso o Marco Civil se
torne realidade. Entre eles estabelecer “mecanismos de governança
multiparticipativa, transparente, colaborativa e democrática, com a
participação do governo, do setor empresarial, da sociedade civil e da
comunidade acadêmica”.
Os governos serão obrigados a
estimular a expansão e o uso da rede, ensinando as pessoas a mexer com a
tecnologia para“reduzir as desigualdades” e “fomentar a produção e circulação
de conteúdo nacional”.
Os serviços de governo eletrônico
precisarão ser integrados para agilizar processos, inclusive com setores da
sociedade, e a internet ainda será usada para “publicidade e disseminação de
dados e informações públicos, de forma aberta e estruturada”.
Por fim, há ainda a preferência
por tecnologias, padrões e formatos abertos e livres, e a de se estimular a
implantação de centros de armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados
no Brasil, “promovendo a qualidade técnica, a inovação e a difusão das
aplicações de internet, sem prejuízo à abertura, à neutralidade e à natureza
participativa”.
Olhar Digital
Marco Civil da Internet começa a valer em junho
Reviewed by Francisco Júnior
on
02:52
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