O principal refúgio de uma criança ou adolescente é o “seio familiar”, onde a base do jovem é formada e onde ele adquire os conhecimentos mais importantes para a vida em sociedade.
Mas para muitos meninos e meninas
paraibanos é no “lar” onde o abuso e a violência são vivenciados, através de
pais, avôs, tios, irmãos e padrastos. De acordo com o Ministério Público
Estadual (MPE), até setembro deste ano, foram 627 denúncias de abuso sexual e
80% estão relacionadas a casos cometidos pelos próprios familiares das vítimas.
Ainda segundo o MPE, a Paraíba está em 13º lugar no ranking dos estados
brasileiros, em abuso e exploração sexual.
Depois de 17 anos vítima do
segundo aproveitador, “Maria de Lourdes” (nome fictício) decidiu contar a sua
genitora o abuso cometido pelo avô, quando ela tinha 8 anos de idade. Hoje com
25 anos, a jovem preferiu não se revelar por vergonha e trauma.
Ela contou que foi nessa idade
que o avô começou a molestá-la através do contato físico, dentro de sua própria
casa, quando a neta visitava os avós. “Minha mãe nos deixava (ela e o irmão) na
casa deles no final de semana e eu costumava dormir no sofá, então ele ficava
rezando à noite até que minha avó dormia e ía mexer comigo, passava a mão nas
minhas partes íntimas e eu continuava fingindo que estava dormindo. Uma vez
quando eu tentei reagir, ele disse que estava matando mosquito”, disse.
Mas a jovem informou que o avô
paterno não foi a primeira pessoa a abusá-la. Aos 6 anos, o padrasto de sua mãe
oferecia salgadinhos e bombons para que ela sentasse em seu colo e ele pudesse
tocá-la. “Eu era muito criança nesse tempo e não entendia muito bem. Com o meu
avô eu já sabia que era errado, mas tinha muita vergonha de contar a alguém, só
tive coragem quando ele faleceu, então eu contei a minha mãe. Hoje eu preservo
o máximo possível meu filho e minha irmã, porque tenho medo que isso se repita
com eles”, contou.
Conforme o oficial da Promotoria
da Infância e Juventude do MPE, Rogério Antunes, o que está sendo constatado
desde o ano passado, através das denúncias que chegam ao ministério, é o
aumento de relatos de abuso sexual, em oposição aos casos de exploração sexual,
que vem diminuindo na Paraíba.
De acordo com os dados da
Promotoria, de janeiro a setembro deste ano foram registrados 627 casos de
abuso sexual, contra 175 de exploração. O mês que mais registrou denúncias
relacionadas a abusos foi julho, com 93 relatos. “A maioria dos casos, cerca de
80%, está relacionada aos abusos cometidos por pessoas da própria família da
vítima e grande parte também é causada contra meninas”, informou.
Creas contabiliza mais de 400
violações de direito no primeiro semestre
Segundo os dados registrados pela
Secretaria de Estado e Desenvolvimento Humano, nos 96 Centros de Referência
Especializado da Assistência Social (Creas), sendo 20 regionais e os demais
municipalizados, foram constatados 407 violações do direito, do tipo abuso
sexual na Paraíba, entre janeiro e junho deste ano. A maioria aconteceu contra
meninas, correspondendo a um número de 302 do total.
A coordenadora estadual do Creas,
Madalena Dias, contou que muitas denúncias foram recebidas, depois do início da
campanha “Não finja que não viu”, do Governo do Estado, que está percorrendo as
cidades paraibanas desde maio deste ano. Segundo ela, equipes do Creas passaram
por diversos municípios, realizando audiências públicas para identificar casos
onde houvesse violação de direitos da criança e adolescente, inclusive abuso
sexual.
"Muitas vezes encontramos
dificuldades, porque a maioria das crianças abusadas se torna retraída,
especialmente os meninos, até pela carga social que é colocada no sexo
masculino. O abuso sexual é um crime que fica marcado para o resto da vida da
vítima. Mesmo com a ajuda de especialistas, que vão ajudar a criança a conviver
socialmente de forma normal, aquele problema sempre será lembrado”, contou.
Conforme a coordenadora estadual do Creas, Madalena Dias, estes foram os casos
registrados em toda a Paraíba, mas ainda existem os casos nunca revelados pelas
vítimas, que ainda se sentem encurraladas pelos violadores.
Abuso sexual de crianças ocorre mais dentro de casa
Reviewed by Francisco Júnior
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21:30
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